Sei que muitos fazem campanha com videos informativos, jornadas de conscientização e muita publicidade ao respeito. Tudo vale para o bem-estar daqueles que sofrem, e impedir mortes desnecessárias.
Mas, existem detalhes que podemos fazer o ano inteiro, porque a aparição do câncer não respeita data, sexo, crença ou condição social.
E desses pontos vamos falar brevemente:
Ênfase na vida do paciente
O que é mais importante, vender uma camisa da campanha ou criar cultura de prevenção?
É surpreendente como alguns tentam criar lucro ou fama com algo tão delicado: se auto-promovem, vendem mercância, e produtos, se esquecendo daqueles que morrem a cada ano por causa das duas doenças.
Ao relacionar o câncer de mama/próstata com um produto, destruímos a humanidade daquele que padece. Isso é inadmissível.
O portador sofre, e sofre muito. Além de ter o estigma de carregar um tumor, ele tem tratamentos altamente destrutivos como a quimo e a radioterapia. Cirurgias, estudos, biopsias, e muitas visitas ao médico. Ele perde sua privacidade e intimidade, e isso é muito constrangedor.
Agora, imagine uma pessoa, nesse estado, ser usado como modelo de marca ou garoto propaganda.
O que poderíamos dizer disso? Para mim, é repugnante.
Cuidado com os familiares
Sempre fico admirado que os parentes dos portadores de câncer são colocados no escanteio como se não sofressem junto com seus seres queridos.
Você poderá me dizer que as dores são diferentes, e concordo. Mas isso não diminui a dor do outro.
Ele vê o outro recebendo doses de quimioterapia, radioterapia, cirurgias, observa as mudanças no corpo físico, e sem contar as emoções e anseios. Em ocasiões eles devem permanecer como uma montanha inabalável para ser o apoio do outro, mas quem assegura a ele? Quem se importa?
Uma campanha de conscientização que não se importa naqueles que estão ao redor daquele que padece a doença, passa a ser mercenário e manipulador.
Empatia na luta
A luta contra o câncer não é um reality show, é a luta pela vida dentro do próprio corpo da pessoa.
Não podemos pensar que isso deve ser motivo de cliques ou de fama, é um momento de tranquilidade, de focar tudo na melhoria do portador da doença, de acompanhamento.
Mas não com lástima, ele não é um coitado. Ele merece empatia.
Esteja junto, fale com ele, e
não somente da doença. Pois eles também têm uma vida, família, amigos, sonhos, empregos, e muito mais para falar.
Acompanhe, ame, viva, ande junto, sem lástima, mas com alegria. Você pode fazer a diferença ao estar junto.
Esteja até o fim
Nem todos sobrevivem ao câncer, mas a família sim.
Esteja com a família depois de tudo. Para eles a morte não é o fim do sofrimento: a saudade, o cansaço, a fadiga que aparece; a vida pós-morte dos familiares é dura.
Se a pessoa sobrevive, saiba que ainda precisa de você.
Ele vai querer voltar a suas atividades, mas nem sempre poderá fazê-lo como antes, ou pelo menos vai te que esperar até recuperar as forças, e as vezes não voltam como antes.
O fim de tudo será quando a vida se normalize, e todos possam retomar suas vida com toda tranquilidade.
Eu sei disso muito bem
Tudo o anteriormente descrito não foi pego em lugar nenhum, são as conclusões da nossa caminhada quando a minha esposa detectaram um câncer há quase 10 anos.
Nenhum dos dois estava na faixa dos 30 quando o carcinoma apareceu. Não tínhamos recursos, mas o apoio da família foi fundamental.
Muitos "amigos" falaram que era algo que poderia ter vindo por causa de algum pecado, ou que ela não deveria fazer o tratamento tradicional, mas "alternativos" que davam resultados sem tanta dor.
Vi o cabelo dela cair, o desespero nas manhãs, a dor da quimioterapia, as viagens pelos remédios que precisava, as mudanças no seu peso e no descanso. Procurei ser o seu apoio e confidente, tentei não me poupar em nada por amor dela - e valeu a pena.
Mas, poucas pessoas me perguntaram sobre os meus sentimentos e forças. Admiravam-se porque ainda sorria e brincava, mas dentro de mim me desfazia em perguntas e questionamentos sobre a dor e a nossa capacidade de aguentar tudo. Mas, poucas pessoas se sentaram comigo para me pergunta como eu estava. A atenção estava toda nela, e ela com certeza precisava mais do que eu.
Os amigos que tivemos - que não foram poucos, mas também não muitos - estiveram conosco em todo momento, nos deram apoio e orações. Caminharam essa milha, e nos deram descanso.
Da mesma forma, há muitos anos atrás, acompanhei uma pessoa com câncer. Fiz com ele um trabalho pastoral de oração, leitura da Bíblia e acompanhamento. A família se mudou depois disso, e perdemos o contato posteriormente. Mas ele encontrou descanso em Deus aceitando que a morte seria inevitável, e preparou sua família para isso. Todavia, sempre penso que poderia ter feito mais pela família dele no tempo em que eles estiveram antes da mudança, mas era muito novo, infelizmente.
Uma palavra final
Se você quer se aderir na campanha da conscientização do câncer, eu recomendo que faça isso pensando mais naqueles que padecem do que na sua própria fama. Divulguemos a importância da prevenção, dos testes, das mamografias e ressonâncias, da visita frequente ao médico, da alimentação balanceada, de evitar os vícios, de ter uma vida sossegada e frutífera. Em fim, de viver plenamente.
Deus cuida das pessoas, e no seu amor nos deu uma família para amar, amigos para nos encorajar, e permitiu o desenvolvimento da ciência para nos ajudar. Viva cuidando dos outros sem esperar nada em troca. As experiências que temos são valiosas, vamos aproveitá-las.
Que Deus abençoe você!
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